Arte contemporânea: associada da ASPAS lança catálogo no Sesc Quitandinha dia 25 de maio

Artista plástica aposentada desde 1995, Sonia Xavier, que trabalhou no Centro de Treinamento do Serpro no Rio e em Brasília, dedica-se agora com afinco à arte contemporânea, paixão que já nutria desde os tempos na ativa.

Após ter participado de muitas exposições, desta feita Sonia expõe no bucólico Sesc Quitandinha, em Petrópolis (Av. Joaquim Rolla, n º 2 , tel 24-2245-2020) com sua "instalação labirinto", como ela gosta de chamar.

"O Sesc dá muito apoio e a exposição ficou ótima, do jeitinho que eu gosto. Já está em cartaz desde o dia 24 de abril, mas agora em 25 de maio será o lançamento do catálogo, um momento muito especial para o artista. Gostaria de convidar todos os meus amigos do Serpros, e em especial o Haroldo Ramos, que me descobriu pelo facebook."



A Arte de Sonia Xavier - Mãos e drama
 
1 - Mãos - Microscopia de um recorte 
 
O trabalho de Sonia Xavier, sobre mãos, requer algumas reflexões.
São mãos que se entremostram numa espécie de lúdico frescor de gesso. Sem se mostrarem, entreolham-se como fundas marcas que falam de silêncios mais que de mistérios, mas do que denúncias. Há, então, a partir daí, a emergência de sua forma poética. Percorre névoas e movimentos que lembram as pranchas de Rorchach, onde cada um pode se projetar.
Toda a poética está sempre no olhar que, da obra, faz a leitura. E aí está um pouco a graça do discurso. É um nascer para a maturidade, como se ali houvesse uma chegada antes da partida. Vida morte, quem chega primeiro no território do sonho e da memória?
Quem chega junto, de certa forma? E forma é a palavra. A boa forma é a marca do andarilho que faz de cada passo, sua luz. E delineia, ao longo do percurso imprevisto, uma história em linha reta para o futuro.
Morte, vida, chegada, partida... Deixemos o discurso da Artista nas mãos curiosas que nos enlevam e retornam às próprias formas encravadas no gesso e ao olhar de cada um, como ondas de um mar fiel.

2 - Dúvidas - Segundo recorte

Uma pequena libré de arame entrelaçado,  recobre  parte de um centro bélico, por assim
dizer. Veladura? Que seja. Por trás, a batalha, ou dualidade, apontada presença da ternura e do teor agressivo do existir. O arame farpado é dardo que atira no olhar uma tempestade, ao tempo em que se depõe sobre formas que parecem abrigar devaneios. Um sonho - pesadelo, retrato  de uma faceta humana difícil de negar.
Aonde deseja ir a inquietude? Quais as vicissitudes desse navegar?
Muitas são as marcas a serem decifradas, inúmeros são os símbolos a nos revelar a noite, os dias, o princípio e o fim de um afoito mergulho no estar aí de todos nós.
O trabalho é uma preliminar emocional e difusa do real e do ilusório, do que permanece e atravessa os tempos da História e do efêmero. Este, como transparência e aguda aposta de tudo quanto em vão busca se esconder, contudo, ainda mais se expõe.
Debruçados uns sobre os outros, os diversos elementos se equilibram num duelo de doidas impressões.
Há, sim, uma luta. A história merece ser contada e levada até o fim,
Que assim seja. Porém, como em Camus, cumpre imaginar Sísifo feliz.
 
3 - Controvérsias - Terceiro recorte

Dispensar a consciência é normal, quando se dá entrada ao imaginário. A imaginação é a louca da casa. Pelo fato de ninguém dela se dar conta, no momento em que entra em cena, nos surpreendemos. Parece um delírio, e muitas vezes o é. Pula, valsa, faz múltiplas variações sobre o mesmo tema, e nos devolve, à capela e a boca pequena, nova versão de nossas circunstâncias. Assim, a obra de Sonia, quando ela entra no território de suas próprias inquietações inconscientes. Objetos, disfarces, lúdicas máscaras emergem, sem que ela se dê conta.
Na tela vemos - o que ela certamente jamais pensou - a carreta fantasma levando cavalinhos que poderiam pertencer a um carrocel francês ou de outra quaisquer procedências. Eles giram, dançam, seguem o ritmo de uma festa multicolorida e, ao final, comovem. É o delírio inconsciente, movido por emoções primárias. Um olhar severo sobre a primeira infância se transfigura em galope; uma palavra qualquer muda de perfil e surge como entrega e acolhimento.
É quando na tela, o real e o imaginário se fundem num concerto de emoções projetadas
em cores nada ocasionais. O ritmo está certo, as emoções equilibradas. E digam o que desejarem, ali percorre um passo de colibri assustado, ou de corsa em correria dispersa.
O delírio, então, é o principal ator da gesta da composição. Aqui a ausência de aparente sentido, se refestela e nós agradecemos.
Importa sermos virtuoses do acompanhamento.

Todo o material utilizado se converte em pistas para prováveis esclarecimentos. É o que menos se anuncia é o que mais se proclama. O abstrato se concretiza, o concreto se abstrai sobre rendas, placas de zinco, alumínio, telas de arame, assumindo aqui e ali formas inusitadas querendo manchas mais chegando a figuras de duendes, carros gregos de batalhas, vultos brancos, cores em contrastes de silhuetas apenas sugeridas. Um universo que, por assim dizer, se distrai da realidade e por ali vagueia.

Vale vaguear, quem por muito anseia. Por trás de todos esses panos de boca, o olhar da obra nos contempla. Tudo são memórias. Ao final, constata-se: o que sobrevive, na arte exposta são formas, cores, movimento, volumes, luzes e movimentos, O resto é o silêncio das esperas.