Associado se aposentou, mas nunca parou, nem pretende

Mario Cardoso Luiz, nosso entrevistado, acaba de formar-se em psicologia, e já está trabalhando. Encantado com a nova profissão, ele nos diz: "A vida é uma eterna mudança, você dorme uma pessoa e acorda outra. Aos 72 anos, me sinto em sintonia com a vida. A cabeça trabalhando, você não quer saber de acomodação. Dá um tesão danado".

Conta um pouco da sua trajetória no Serpro


Mario Cardoso Luiz:
Comecei a trabalhar no Serpro quando da sua criação, no Rio de Janeiro, na época na rua Miguel Couto, onde funcionava a administração central, tendo sido alocada na antiga Divisão de Material. Isso foi na época em que a direção superior era mais enxuta, contava apenas com Sr Dion como superintendente, Sr Ronaldo na área técnica, Sr Ernani na área financeira e Sr Arthur Nóbrega na administração. Depois fui para a Lapa. Quando a AC foi transferida para Brasília, fui convidado a permanecer no cargo. Cheguei a ir para Brasília reconhecer o terreno, mas naquela época minha mãe estava muito doente, e além da idade também não tinha visão e requeria atenção especial. Então abri mão e indiquei o colega que já era meu substituto no Rio. Eu permaneci na Lapa, antiga SAARJ, que mais tarde foi incorporada à 7ª URO. Trabalhei também no Horto, depois fui requisitado pela prefeitura do Rio, fiquei cedido à Secretaria Municipal de Fazenda uns sete anos, onde ocupei o cargo de Diretor Administrativo. Quando voltei ao Serpro já era outro órgão, chamado Firio, filial Rio de Janeiro, onde assumi a chefia de patrimônio. Quando o patrimônio se mudou para Bonsucesso, lá fui eu. Mais tarde retornei ao Horto, onde me aposentei.

E quantos anos você tinha quando se aposentou? Ficou algum tempo sem atividade?
Mario:
Eu devia ter uns 55 anos, mais ou menos. Lembro que consultei um especialista, vi se valia a pena me aposentar, porque eu já podia, mas ainda faltava coisa de um ano para ter direito à integralidade. Como na ocasião eu tinha tudo engatilhado para participar de outra atividade, que inclusive já funcionava informalmente e era bastante lucrativa, fiz a opção. Cuidei da estruturação administrativa para instituição da sociedade e articulei a terceirização da informatização do serviço que era prestado na área de faturamento hospitalar. Ou seja, engatei uma coisa na outra, não parei nem um pouquinho.

Mas hoje o seu negócio é a psicologia. Como se deu esta transição?
Mario:
Então, um belo dia a sociedade terminou e eu fiquei pensando o que ia fazer. Gosto de estudar, a cabeça não pode parar. Fiquei lembrando da época do Serpro, que eu sempre tinha um olhar diferenciado para as pessoas menos favorecidas, me interessava por seus problemas pessoais, perguntava da vida delas. Entre as muitas atividades de treinamento que fiz no Serpro, as focadas em questões comportamentais sempre me despertavam maior interesse. Lembro de um treinamento realizado num hotel em Copacabana, quando um colega ao ser perguntado sobre o que gostaria de ser se não estivesse ocupando o cargo daquele momento, respondeu: ser chofer de caminhão. Lembrei também de minha passagem pela prefeitura. Lidava com um grupo considerável de pessoas que apresentavam comportamentos que mostravam a possibilidade de algum tipo de sofrimento emocional, inclusive dependência química. Com autorização concedida pelo Secretário de Fazenda, busquei nos quadros da própria secretaria os recursos humanos necessários para oferecer algum tipo de ajuda àquelas pessoas, e assim formamos a equipe com médico, psicólogos e assistente social, que se encontravam em outras funções; convidei-os para o desafio e toparam. Montamos um posto de atendimento para acolhimento dessas pessoas na própria secretaria. Naquele momento, encaminhar para secretaria de saúde seria apenas jogar o lixo para baixo do tapete, empurrar com a barriga. Queríamos o "aqui e agora". Eu tinha essa coisa interior, em casa era chamado de "pastor" porque gostava de fazer "dinâmica de grupo" com temas do cotidiano, e hoje percebo que o propósito era simplesmente um desejo de mudanças. Não sabia bem explicar o que agora se mostra bem claro pra mim, e que acho fundamental para quem quer lidar com o ser humano, com o outro, que afinal é a coisa mais bonita que existe. Então fiz minha opção: psicologia.

E há quanto tempo você está formado? Já está trabalhando na nova atividade?
Mario:
Acabei de me formar agora em março, quando colei grau e me habilitei junto ao Conselho Regional de Psicologia. Não tinha ainda colado grau quando recebi o convite para trabalhar em uma clínica. Fiquei muito emocionado, principalmente porque a diretora da clínica me surpreendeu tecendo comentários elogiosos. Estou lá há dois meses, a matriz é no bairro de São Francisco, em Niterói, e a filial é em Botafogo, no Rio. Hoje, para mim, tudo gira em torno da psicologia. A vida é uma eterna mudança, você dorme uma pessoa e acorda outra. Aos 72 anos, me sinto em sintonia com a vida. Dá um tesão danado, é um desafio, uma ansiedade positiva que só sentindo para saber. A cabeça trabalhando, você não quer saber de acomodação. Cada ser humano tem na sua história de vida um conteúdo rico para ser estudado e para que possamos ajudá-lo a compreender suas questões e reduzir sua dor emocional. Dor de dente é no dente. Dor emocional é onde ? Na alma ? Talvez ! Caminhando juntos crescemos juntos. Quanto maior a consciência maior a clareza sobre tudo. A pior coisa da morte é a morte em vida, que diz respeito as várias perdas que temos ao longo de nossa existência, tais como projetos adiados ou nunca concluídos, entre outros. Não somos um ser pronto, produto acabado, sempre poderemos ser algo mais, somos cheios de possibilidades. Somos livres para construir nossa essência realizando nossas escolhas. Nem sempre escolhemos o que nos acontece, mas nos cabe a opção do que fazer com o que nos acontece.

E fora o trabalho, Mario, você pratica algum esporte, cuida da alimentação?
Mario:
Não sou disciplinado para atividades físicas, tenho consciência que estou devendo. Caminho sem regra, quer dizer, pode ser qualquer dia, qualquer hora, sob sol ou chuva. Não programo. Adoro quando sou convidado e aí não rejeito. Preferencialmente no calçadão de uma praia. Já da alimentação eu cuido muito, para mim é uma bíblia. Alimentação e sono. Durmo sete horas por dia, como muitas frutas e legumes, alguns alimentos naturais, mas sem radicalismos. Aprendi a gostar de tomate ainda no colégio interno e como pra caramba até hoje. Mas só depois de adulto vim saber do seu benefício para o homem, em se tratando de próstata. Se tiver convite para um churrasco, uma festa, eu vou e como, e no dia a dia equilibro a alimentação. Misturo mamão com maçã pra regular funcionamento do intestino, benefício que as fibras também oferecem. Azeite e alho na cozinha é prioridade. E uma taça de vinho à noite é bem-vinda !

Gostaria de deixar alguma mensagem aos nossos associados?
Mario:
Fico pensando no caso recente do rapaz desempregado que foi preso porque, a família passando fome, ele sem comer há três dias, roubou 2 kg de carne no supermercado. Quando souberam da estória dele, até os policiais que o prenderam pagaram a carne e agora alguém já lhe ofereceu um emprego. Mas ele vai responder a processo, etc...Você compara isso com esse roubo de bilhões que vemos diariamente nos escândalos de corrupção. Também acabamos de presenciar a intervenção no "nosso" SERPROS e as razões são as mesmas. Sabemos que o poder fascina, mas nas mãos de gente sem amor ao próximo também destrói. Não pode haver este disparate, esta diferença social, esta distância entre as pessoas, isto é inconcebível. O ser humano tem que ser mais gente, mais empático e congruente, fazendo de fato aquilo que tanto apregoa, sendo mais irmão e mais próximo. O foco tem que estar no afeto. O bem estar das pessoas está ligado ao relacionamento. Somos sistêmicos. Vivemos pelo e para o ser humano. Sem a presença do homem, nada tem valor, apenas preço. Deixo também uma frase da psiquiatra Nise da Silveira: 'Gente muito certinha é gente chata', mas isso não representa dizer que nosso foco deixa de ser o afeto. Temos que ter desprendimento, bom humor, flexibilidade, tolerância e ser menos reativos. É isso.