"Envelhecemos porque os hormônios diminuem. Os hormônios não diminuem porque envelhecemos"

Esta foi uma das primeiras frases ditas pelo Dr. Alberto Serfaty, médico especialista em nutrição e modulação hormonal, quando perguntado sobre o conceito de envelhecimento. Em entrevista exclusiva concedida à ASPAS, Dr. Alberto, também conhecido entre famosos como o guru do emagrecimento, nos brindou com explicações claras e objetivas a respeito do que precisamos para manter a qualidade de vida à medida que envelhecemos.

Qual a principal mudança no conceito do envelhecimento?
Dr. Alberto Serfaty:
O conceito mudou bastante. Veja bem, a medicina continua matando da mesma maneira que matava antes - infarto, câncer, etc - o que mudou foi a prevenção e é exatamente nela que é pautada a medicina antienvelhecimento. Tratamos da saúde do paciente, de 'evitar que o cristal quebre', de agir antes da instalação das doenças.
Eu costumo dizer que o envelhecimento é como se fosse uma mesa com quatro pés. O primeiro pé seria nossa herança genética, mas não podemos ficar reféns da genética. Hoje, em vários campos já utilizamos células-tronco, por exemplo. O segundo seriam nossos hábitos de vida, nossa dieta alimentar, as atividades físicas que praticamos e o stress que precisamos evitar. Um outro pé é a modulação hormonal, justamente para permitir que nosso corpo continue com energia e disposição e possa ter muito mais qualidade de vida; por último, a suplementação ortomolecular: precisamos impedir que os radicais livres dificultem ou bloqueiem a boa nutrição de nossos bilhões de células. Aqui entramos com os antioxidantes.
Em suma, envelhecemos porque os hormônios diminuem. Os hormônios não diminuem porque envelhecemos.

Sobre a alimentação, o que seria mais importante?
Dr. Alberto Serfaty:
Evitar a inflamação. Todas as doenças degenerativas têm a ver com inflamação das células. Mais importante do que prevenir o colesterol é tentar reduzir um hormônio chamado insulina, ligado à obesidade, o principal óbice da vida moderna. Se uma pessoa tem 10 mg de insulina no corpo e a outra tem 20mg, a que tem 10mg com certeza vai viver mais. Reduzimos essa insulina controlando o excesso de carboidratos, excesso esse que causa diversos males: além de engordar, promove a baixa de açúcar no sangue (e aí você come mais açúcar para compensar essa baixa e entra num círculo vicioso), aumenta a pressão arterial, os triglicerídeos, pode levar à diabete, a doenças coronarianas, etc. Controlar a resistência à insulina é fundamental para se ter uma vida mais longa. Reduzir as farinhas, o açúcar, os doces e priorizar uma dieta rica em carnes magras, azeites, frutas, vegetais é receita que vale para pacientes de qualquer idade.

E em relação aos exercícios físicos?
Dr. Alberto Serfaty:
A atividade física não faz perder peso, isso é bobagem, mas os exercícios são fundamentais para promover aumento da capacidade cardiovascular, para a pessoa se sentir mais bem disposta, com mais energia, para prolongar a vida. Outra coisa importante é evitar o stress, fazer uma terapia oriental, yoga, por exemplo, aumentar nossa tolerância às situações geradoras de stress, que não são poucas.

Dr., e qual o papel da modulação hormonal?
Dr. Alberto Serfaty:
Com o envelhecimento, todos os hormônios baixam, exceto a insulina, essa aumenta e aí é o problema sobre o qual já falamos. Começam as diversas pausas da vida: menopausa (queda na produção dos hormônios femininos estrogênio e progesterona, normalmente entre 47 e 55 anos, dependendo da mulher), andropausa (queda na produção da testosterona, que atinge homens e também mulheres, em geral a partir dos 50 anos), tireopausa (redução nos hormônios da tireoide, em geral a partir dos 40 anos), adrenopausa, que atinge a suprarrenal, e somatopausa, que é a baixa do hormônio do crescimento, o pai de todos os outros hormônios, se ele vai mal, todos os demais vão mal também. É preciso repor esses hormônios.
Vemos muitas pessoas tomando um antidepressivo, um Viagra, tentando atacar o que elas sentem, mas é preciso ir no âmago da questão, na causa de tudo, nos hormônios. A reposição melhora muito a qualidade de vida, dá mais energia, melhora o humor, contribui para uma melhor composição corporal, melhora a parte cognitiva, a parte muscular, melhora a libido, ajuda a prevenir o Alzheimer, reverte a resistência à insulina. Você compara: em 1940 a mulher vivia em média 50 anos, hoje vive cerca de 85. Essa convivência de 35 anos sem hormônios vai gerar várias situações problemáticas.

Ainda ouvimos falar que a reposição hormonal está ligada ao aparecimento de alguns tipos de câncer. Isso tem fundamento?
Dr. Alberto Serfaty:
A origem desse mito vem de um estudo publicado, em 2012, no WHI, Women's  Health Institute, mas aquela reposição foi feita de forma totalmente errada, usando urina de égua. Inclusive o mesmo instituto já divulgou vários outros artigos dando conta da segurança da reposição, quando bem feita. Veja bem, os hormônios são como uma orquestra, cada hormônio em separado é um instrumento e você precisa do maestro para reger essa orquestra de forma harmônica, esse é o papel do médico. Os hormônios não têm efeito positivo apenas no local onde atuam, mas muito além. Por exemplo, o fato de a mulher na idade fértil ter menos infarto está ligado à produção de estrogênio.
Hoje em dia, trabalhamos com hormônios bioidênticos, que funcionam exatamente como os do próprio organismo. É a chave certa para a fechadura, não tem problema. No passado a chave era uma, mas a fechadura outra.
Precisamos também evitar a vulgarização da reposição, como vemos em algumas academias, recomendando anabolizantes, fazendo a coisa sem critério. Nosso objetivo na modulação não é dar uma sobredosagem, mas sim a quantidade certa para repor aquilo que o indivíduo perdeu, para que ele possa ter uma vida normal e com qualidade.

E como funciona a reposição?
Dr. Alberto Serfaty:
Atualmente usamos bastante os implantes, chips colocados no paciente que liberam a quantidade certa de hormônios por dia. Independe de o paciente lembrar de tomar o medicamento na hora marcada, não tem erro de dosagem, é extremamente prático e seguro. Seu uso começou como método anticoncepcional, depois estendeu-se para mulheres com endometriose, com ovários policísticos etc.
Os implantes representam muito mais conforto e um ganho de qualidade de vida em termos de melhora de energia, inclusive sexual, capacidade intelectual, humor. O homem é como um leão, ele vai à caça. Nos seus 20, 30 anos, é um leão. Com a idade, vai ficando um gatinho humilde, apático, cansado, sem libido. Precisa voltar a ter energia e isso tem a ver com a modulação hormonal.